terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Tudo errado com os estaduais

Obs.: Texto publicado no blog “De olho na copa”, de Fernando Vives, em 13/02/2012
http://br.esportes.yahoo.com/blogs/de-olho-na-copa/tudo-errado-com-os-estaduais-013732320.html


A questão da existência dos campeonatos estaduais é mais profunda do que parece no Brasil. Repercute diretamente na confecção do calendário anual, problema que começou a ganhar importância para Ricardo Teixeira, presidente da CBF, quando o país deu os primeiros passos para ser sede de uma Copa do Mundo. Um calendário mais organizado seria o primeiro passo para o País mostrar um mínimo de competência para administrar um mundial de futebol.

Em 2003, o Campeonato Brasileiro adotou o modelo europeu de pontos corridos, o que beneficia clubes organizados em detrimentos de franco-atiradores (com exceções, claro). Ao mesmo tempo, a Copa do Brasil, mesmo que tortuosamente (não tem os principais clubes do Brasil na temporada anterior, que disputam a Libertadores), mantém o clima para quem gosta de mata-mata.

Há praticamente duas décadas ouço que os estaduais são decadentes. Aqui na cidade de São Paulo, onde vivo, é comum ouvir a opinião de que os campeonatos dos estados precisam acabar o quanto antes. Eu não concordo, mas é inegável o péssimo inchaço no calendário para caber estaduais, Libertadores, Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana e, quando há a oportunidade, o Mundial de Clubes.

Considero umbigocêntrico o argumento de que os estaduais precisam acabar. Quem argumenta isso geralmente esquece que o futebol não é feito só dos clubes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, ignora que o grosso do futebol profissional do Brasil está no interior, nos clubes pequenos, mas divisões inferiores. E o Brasileirão não tem como suprir isso.

Embora não pareça tanto, os clubes grandes dependem um pouco dos pequenos. As grandes revelações do Paulistão deste ano estarão, a partir de abril, vestindo a camisa de Palmeiras, Santos, Corinthians ou São Paulo. O mesmo ocorrerá no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais. Mais que isso: a manutenção da torcida dos grandes depende em parte de eles jogarem no interior. Um torcedor se apaixona facilmente ao ver seu ídolo ao vivo, no estádio.

Agora, posto isso, duas coisas são evidentes. Primeiro, que nem todos os estaduais precisam existir. Segundo, que não é possível a existência de um estadual por três, quatro meses da temporada. Ninguém ganha com isso, nem os grandes, nem os pequenos.

Particularmente sou a favor de dois estaduais: o Paulista e o Carioca - talvez incluíssemos o Mineiro nessa lista. Os outros poderiam se juntar em blocos regionais: uma Copa Sul acrescentaria muito mais aos clubes gaúchos, catarinenses e paranaenses que os próprios estaduais. No Nordeste, a volta de um Nordestão competitivo empolgaria muito mais o clássico Ba-Vi, ou um Náutico x Sport que esses duelos disputados pelo estadual (e o mesmo valeria para as regiões Centro-Oeste e Norte). A grande dificuldade aí seria encaixar o futebol mineiro. Vale a pena continuar o estadual de Minas do jeito que está? Caso contrário, como adicionar os mineiros num contexto regional? Voltaríamos com a Copa Sul-Minas, aquela aberração geográfica?

Segundo, os estaduais precisam ser torneios de tiro curto, ou então com poucos jogos, mas de longa duração. De preferência, com os pequenos se enfrentando numa primeira fase e, no fim, os melhores destes enfrentando os mais tradicionais. Nestes moldes, sou a favor dos estaduais e regionais durando boa parte do ano, em meio a um Brasileirão e uma Libertadores que durasse o ano inteiro.

O calendário da Libertadores é outra aberração para o qual voltaremos a falar no futuro. O fato é que todos sabemos que o calendário do futebol brasileiro atual em nada contribui para ajudar os clubes a se aprimorar - pelo contrário, os times jogando em janeiro e fevereiro em plena fase de adaptação técnica. Um absurdo.

Como se vê, o problema é complexo. Não existe resposta exata. O que sabemos é que mudanças precisam ser feitas. Mas alguém aí vê alguma movimentação das federações estaduais e, sobretudo, da CBF? Nada. É o pior dos mundos: todo mundo sabe que temos esses abacaxis, mas ninguém está interessado em descascá-los.

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