segunda-feira, 4 de julho de 2016

O papel do futebol contra a homofobia

Os primeiros registros que se tem de práticas esportivas envolvendo a bola nos pés data dos séculos III e II a. C praticados pela dinastia Han, na China. Posteriormente, ainda na ásia, o primeiro conceito de troca de passes ocorria no japão com as cerimônias tradicionais chamadas ''Kemari''que consistia na bola passar pelos pés de todos os envolvidos. Alguns séculos mais tarde, os ingleses desenvolveram variações do rúgbi, com metas, sem uso das mãos, com faltas, regras. Nascia ali esse misto de obras de arte que nenhum Picasso pintou e filosofias que nenhum Kant escreveu. No Brasil, o futebol vai muito além do esporte. 

O futebol é parte importante da vida de boa parte da sua população, é algo cultural e viciante. É praticamente impossível ser indiferente ao futebol no Brasil. Quando o futebol chegou ao nosso país, no final do século XIX, muitas equipes surgiram. Porém, o futebol como conhecemos hoje, como um patrimônio do povo capaz de reunir as mais variadas classes, etnias, gêneros e opiniões no mesmo ideal só veio a dar seus primeiros passos nos anos 20 do século XX quando o Clube de Regatas Vasco da Gama saiu em defesa dos negros e trabalhadores que atuaram na construção de São Januário. Era a primeira vez que um clube de futebol se posicionava contra os preconceitos e se abria para o que era considerado 'errado', somente por ser diferente. Anos mais tarde, um adolescente franzino chocou o mundo desfilando sua superioridade técnica e talento extraterrestre perante os jogadores dos 4 cantos do mundo. Este homem era negro e fez as sociedades mais preconceituosas se curvarem a seu talento. Esse homem parou a guerra. 

Mas, o teor desse texto não é atacar esse preconceito que, pasmem, em pleno 2016 ainda está aí a ser combatido e sim atacar outro. Um que está em silêncio, que ninguém fala, que ninguém se posiciona. O futebol brasileiro é um retrato da cultura do país, da sociedade e expõe certas particularidades. Uma delas é que as torcidas dos clubes tem a décadas cânticos que ridicularizam o homossexual. Todo mundo que frequenta ou frequentou os estádios já ouviu e/ou reproduziu coisas como ''Fulano, Viado''. Ou associações de torcedores homossexuais como algo que ridiculariza ou deprecia clubes. Sem citar exemplos, pois o objetivo do texto não é atacar 'A' ou 'B', dentro dos estádios do Brasil, já houveram vezes em que torcedores homossexuais foram obrigados a tirar suas faixas, quase sempre com uso de violência, dos estádios sob o 'argumento' que ''aqui não é lugar para viado''. Ou quando, em conversas do cotidiano, em redes sociais, ridicularizamos os nossos rivais associando-os a homossexualidade como se fosse algo negativo. 

A identidade de uma pessoa só depende dela, não há parcialidades e qualquer escolha deve ser respeitada. Porém, se quando essas escolhas te privem do direito de praticar o futebol ou acompanhar seu clube do coração, tem que ser combatido. Preconceito nenhum cabe mais na sociedade. O ódio ao diferente tem que acabar e o futebol pode exercer uma função importantíssima nesse processo. Afinal, nosso esporte é fruto da nossa cultura, da sociedade, somos passionais com futebol, vemos homens que são duros e sistemáticos chorarem como criancinhas por causa do futebol, ninguém fica alheio. É hora dos clubes irem na vanguarda da luta contra a homofobia, pois, a partir do momento que o torcedor entende que seu clube valoriza o torcedor sem fazer distinção, abre a reflexão. 

Ações como a do clube espanhol Rayo Vallecano que abraçou a causa são louváveis e para serem copiadas sem moderação. E o mais importante, nós, cidadãos, torcedores, que somos capazes de respeitar a todos sem nenhum tipo de distinção, temos que nos posicionar. Não adianta fazer vistas grossas. Se posicione. A permissividade ao errado é uma das causas da nossa sociedade estar tão doente a ponto de um estudante ser espancado e morto por um grupo homofóbico dentro de um dormitório da UFRJ. A salvação é pela educação. Sempre. 

BBMP!

Um comentário:

  1. Grande texto Victor!!! Devemos combater qualquer tipo de intolerância, discriminação e violência, nas suas diversas formas e estilos!!! E os esporte, e em particular o futebol, é um fator de agregação social formidável por excelência!!!

    ResponderExcluir